Ônibus choca-se com lojas após quebra do eixo dianteiro, em 19/04/2011.
Por Plácido Mendes
Muito se tem falado sobre a qualidade do transporte coletivo em Conquista, principalmente a pós a publicação, no site da Prefeitura, de que o serviço atingiu os 99,7% em eficiência. Não é novidade que este dado é simplesmente ridículo e que qualquer usuário é capaz de apontar facilmente dezenas de falhas no setor.
Como mais um usuário do transporte coletivo da cidade venho com a propriedade de alguém que já se aborreceu inúmeras vezes, apontar algumas falhas impensáveis num sistema realmente eficiente. “Amador” é o termo usado para pessoas que exercem determinada atividade sem possuir o devido preparo, estudo ou senso de responsabilidade. É bastante similar ao “mau-profissional”, que recebeu tal preparo, mas não o utiliza, seja devido à simples falta de interesse, preguiça, falta de uma devida educação familiar ou todos juntos. Poderemos, ao final do texto concluir que o transporte coletivo da cidade está repleto destes tipos de “profissionais”.
Podemos começar com o simples planejamento técnico de distribuição de horários. Em Conquista simplesmente NÃO se pensou em distribuir de forma eficiente os horários de ônibus. Não são raras as queixas de que se o usuário se atrasar por cinco minutos, muito provavelmente chegará a seu destino com um atraso de 20 minutos até mais de uma hora. Isso acontece porque os ônibus, quando chegam aos terminais situados nos bairros ficam de dez a quinze minutos parados. Até aí tudo certo. O problema é que, de repente, todos os ônibus parados saem praticamente ao mesmo tempo. Então, se uma pessoa se atrasa alguns minutos chega a perder mais de cinco ônibus de uma só vez (ex: no Inocoop II se perde o UESB x Bairro Brasil, o UESB x N.S. Aparecida, O UESB x Conquista VI, O UESB x Patagônia, o UESB x Rodoviária, UESB x Centro, etc.). Após isto acontecer, os próximos ônibus começarão a aparecer depois de 10 a 30 minutos, a depender da linha. Se o objetivo era ir além do centro da cidade, o atraso de quase 1h é inevitável.
Daí podem surgir mais dois problemas (e frequentemente surgem!): o ônibus seguinte pode quebrar, o que aumentará ainda mais o atraso do usuário, já que a substituição de ônibus NÃO é rápida (ficará um buraco nos horários das linhas, forçando os usuários a esperarem por grandes intervalos de tempo); ou simplesmente o ônibus pode mudar o itinerário por conta própria. Isto acontece freqüentemente devido a atrasos: os motoristas podem ser notificados pelos fiscais situados no terminal da Lauro de Freitas, caso cheguem atrasados, então simplesmente cortam caminho por rotas alternativas, deixando os usuários na mão. Esta é uma prova da total falta de senso de responsabilidade por parte de boa parte dos motoristas, que simplesmente ignoram o fato de que muitas pessoas podem perder empregos, consultas a médicos, horários de aula ou, em casos mais graves podem levar pessoas a riscos reais de morte. São infinitas as situações que exigem agilidade do sistema de transporte coletivo. Devemos sempre nos lembrar que grande parte da população simplesmente não possui condições financeiras de atravessar a cidade de táxi, mesmo numa emergência. Durante a noite cortar caminho parece ser uma regra: os motoristas perguntam aos passageiros se passarão por determinados lugares. Caso respondam que não, o caminho é cortado. As pessoas que, eventualmente aguardam nos pontos de ônibus da rota descartada talvez nem cheguem a pegar o ônibus se não tomarem a iniciativa de se deslocarem a pé para um ponto onde o ônibus seja forçado a passar. Daí surgem os grandes riscos relacionados à precária segurança pública da cidade. Interessante levantar a questão: uma pessoa assaltada por ficar exposta a bandidos após ser ABANDONADA pelos motoristas tem o direito de processar a empresa de ônibus?
Já que falamos de segurança e desvio de rotas, temos outra questão: alguns motoristas afirmam que o desvio de rota é orientado pela própria empresa, a fim de economizar combustível. O ônibus da linha D31(UESB x Bairro Brasil) durante a noite frequentemente foi flagrado estacionado acima da FAINOR, um trecho escuro, deserto, próximo à estrada para Barra do Choça: um lugar extremamente perigoso. Alguns meses atrás, após as dez da noite, o ônibus subia até a FAINOR apenas uma vez, na volta da UESB (ao invés de na ida e na volta), possivelmente para economizar combustível. Ficava por lá por cerca de dez minutos, como no terminal, daí seguia em direção ao bairro Brasil. Não raramente passageiros eram forçados a permanecer no ônibus durante esse tempo. Uma exposição desnecessária ao perigo dos assaltos. Este caso particular hoje acontece mais raramente.
Quando se vai ao posto do SIMTRANS situado no terminal da Lauro de Freitas para se reclamar, a sensação de que nada será feito é gritante. Eu mesmo já ouvi do suposto fiscal, ao reclamar de desvio de itinerário, que “ele não é babá de motorista” e que deveríamos marcar uma audiência com o prefeito para tentar resolver o caso. Grande profissional. Simplesmente NÃO HÁ a quem reclamar. O sistema de transporte coletivo da cidade funciona de forma totalmente independente às necessidades dos usuários, que pagam uma das passagens mais caras do país. Sim, caríssima, pois se você quiser se deslocar da Vila Serrana até a UESB, o que significa percorrer quase todo o diâmetro da cidade, em tempo médio de 1 hora, pagará o mesmíssimo valor de alguém que queira se deslocar do Bom Preço à AABB, em cerca de 5 minutos. Em qualquer cidade com sistema de transporte coletivo razoavelmente planejado e justo, há cobrança de tarifas de acordo com o percurso. Lembremos que aqui há o monopólio do ônibus: não é permitido o transporte por vans ou moto-táxis. É completamente injusto termos apenas uma tarifa, independente do tamanho do percurso. E ainda aguardamos o próximo aumento da tarifa, que é inversamente proporcional à qualidade do serviço.
Outro problema é o tratamento aos idosos e portadores de necessidades especiais: possuem passe livre, mas são forçados a passar pela catraca. Frequentemente a parte anterior do ônibus está lotada e não lhes é permitida a entrada pela porta central ou traseira do veículo, logo são sujeitados a empurrões, pancadas e outras formas de desrespeito para chegarem à catraca. Os únicos que podem entrar pela traseira do ônibus são os cadeirantes, por motivos óbvios.
Ainda há outros problemas corriqueiros, como a constante falta de troco, que muitas vezes leva o usuário a deixar o veículo sem receber seu troco completo; a falta de limpeza dos veículos; a falta de regras de conduta e fiscalização, especialmente quanto aos estudantes, que não se portam de acordo com a boa educação que recebem em casa: são gritos, baderna, celulares extremamente barulhentos e nenhuma medida de controle. Lembro bem de haver ao menos o controle do uso de aparelhos de som na falecida e sofrível VCL. Os próprios cobradores e motoristas sentem-se intimidados com tal situação. Segurança zero. Nos fins de semanas é sempre uma aventura se arriscar a pegar um ônibus, especialmente à noite. Nunca se sabe se o ônibus realmente aparecerá. Como já se falou, os usuários são forçados a se expor aos riscos de uma cidade cada vez mais violenta, ao ficarem por um grande espaço de tempo parados aguardando o coletivo.
Portanto, há muito que se mudar, do nível do planejamento de rotas, horários, número de ônibus até a conduta dos próprios motoristas e cobradores, que simplesmente não possuem (claro que falamos de uma parcela destes profissionais) a menor noção do quanto podem prejudicar os usuários ao desviarem de uma rota. O órgão de fiscalização simplesmente fecha os olhos e o usuário é o grande prejudicado. Não há informações acerca de seus direitos e dos deveres das empresas. Todos reclamam e se sentem prejudicados, mas sequer sabem o que fazer a respeito. Sintomas de uma cidade que ainda não sabe se é pequena ou grande, onde fatores básicos são deixados de lado e a prefeitura insiste em chamar todos os cidadãos de estúpidos ao publicar o inacreditável índice de eficiência de 99,7%. Fala-se numa licitação para a chegada de uma terceira empresa na cidade, mas se é que está acontecendo, não há transparência alguma: desafio qualquer um a dizer que viu em algum ônibus algum cartaz com informações sobre acompanhamento desse processo. Simplesmente NINGUÉM sabe nada sobre isso. Somos a terceira maior cidade do estado e ainda vivemos um semi-monopólio (boa parte das linhas é percorrida por apenas uma das empresas, o que agrava a situação de irregularidades).
Lembremos a TODOS que no serviço público não há espaço para amadores ou maus profissionais. Um deslize prejudica centenas de pessoas. Uma simples preguiça ou falta de interesse pode ser decisiva para a vida de várias famílias. É tudo uma questão de consciência, boa vontade, boa educação e principamente... Bom-caráter!
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