Stranger Things 2 - Crítica com spoilers


Acabo de assistir toda a tão esperada segunda temporada de Stranger Things, a série da Netflix que fisgou todos pela curiosidade nostálgica e parece grudar ainda mais na mente depois de ontem (27 de outubro). Nunca fiz resenha de séries, mas preciso conversar com alguém e assistir/ler outras resenhas, porém, apenas 24h depois do lançamento isso ainda é muito escasso. Vamos às considerações.

Se na primeira temporada nos deparamos com uma história de suspense pré-adolescente numa cidadezinha do interior dos EUA, Hawkins, com 1400 habitantes e todos os estereótipos que nos foram ensinados em décadas de Sessão da Tarde, agora a coisa parece começar a tomar a forma de um X-Men, com o surgimento da "irmã" da 11 (ou Jane, se preferir). Agora ela aprendeu a usar melhor seus poderes e foi adotada pelo delegado Hopper (David Harbour), o que realmente me surpreendeu, já que só tive algum sinal de ligação real entre os dois no finalzinho da primeira temporada. 

Como é de praxe, as inúmeras referências aos clássicos continuam. Confesso que não gostei da mudança radical quando da viagem da 11 (Millie Bobby Brown) à cidade grande. Primeiro, o fato de uma garota que mal conseguia se comunicar se tornar tão independente de uma hora para outra não me convenceu muito. Tivemos um episódio inteiro como uma "homenagem" a The Warriors (1979), e essa foi a parte que menos me agradou. Tudo bem, eu entendo que ele foi necessário para o que virá no ano que vem, mas eu não senti nenhuma vontade de largar o mundinho de Hawkins durante as duas temporadas. Eu queria acompanhar os personagens que já me eram íntimos, e não saber dos problemas de punks assaltantes.

Outras duas grandes referências aqui não são da década de 80, como se espera, mas também fazem parte da memória afetiva do público-alvo (no caso, gente que era criança nos anos 80 e 90): dos anos 90 temos uma gigantesca referência a Jurassic Park (1993), quando todos estão encurralados nas dependências dos laboratórios (por velociraptores disfarçados de demogorgons-cães) e precisam religar a energia geral. A jornada do Bob sendo guiada por câmeras de vigilância e até mesmo a forma de ligar os geradores é uma viagem no tempo. Falando em Bob (Sean Asty, eterno protagonista dos Goonies), deu pra notar em pouco tempo que seu único destino seria a morte, dada a clara sintonia entre Joyce (Wynona Rider) e Hopper. Apesar de ser um nerd (no sentido "raiz" da palavra) adulto, mostrou-se um personagem carismático e "gente fina", por isso sua morte não poderia ser diferente: digna e honrada.

De 1973 temos a clara referência ao Exorcista quando Will (Noah Schnapp) teve de ser amarrado, dopado e, por fim, "exorcizado" para que expulsassem o monstro que o dominava e colocava a todos em perigo. Poderia considerar um acontecimento à toa, mas o flerte da mãe do Mike (Finn Wolfhard) e Nancy (Natalia Dyer) com o meio-irmão da Max (Sadie Sink), lembrando um pouco American Pie (1999) pelo lado bizarro, mas também lembrando beleza Americana (1999), onde vemos um marido completamente apático e covarde e um casamento claramente infeliz. O Ted Wheeler (Joe Chrest) também lembra muito o George McFly (Crispin Glover) em De Volta Para o Futuro, que provavelmente receberá suas homenagens na próxima temporada, que se passará em 1985. Imagino algo como a dos Caça-Fantasmas (1984).

Concluindo, temos aqui uma clara temporada de transição, e isso é um presente de grego à equipe de produção: sairemos definitivamente do universo pacato e silencioso da primeira temporada para o clima "X-Men" iniciado agora, ou seja: a terceira temporada será a "ame ou deixe" de Stranger Things, onde boa parte do público perderá a empolgação ao ver mudanças mais drásticas no universo da trama. Talvez eu seja um dos que a deixarão, a não ser que nos apresentem algo realmente bem pensado e executado. Espero, de verdade, que isso aconteça.


Postar um comentário

0 Comentários